- A entrada do Brasil na segunda guerra mundial:
Mesmo o Brasil tendo declarado guerra as potências do Eixo quase três anos após o início da segunda guerra mundial, a nação já estava de certa forma envolvida ainda com o clima de guerra já que o Brasil como a maior nação da América do Sul vinha sendo disputado no campo diplomático pelos norte-americanos e alemães. Em janeiro de 1942 na Conferência de Chanceleres do Rio de Janeiro o Brasil se decide pelo norte-americano rompendo as relações com os alemães, desagradando profundamente o governo alemão que encara a decisão como uma declaração e inicia vários ataques de submarinos a costa brasileira resultando em vários navios afundados e várias mortes. Pressionado pela gravidade dos torpedamentos alemães as embarcações brasileiras e pela opinião o presidente Getúlio Vargas decide declarar guerra em 31 de agosto de 1942.
2. Santa Catarina e Joinville no conflito:
O Brasil enviou segundo números oficiais 25.334. Foi apenas 1/4 dos previstos 100 mil soldados acordados com os norte-americanos. Na imagem abaixo montado pela Gazeta do povo podemos ver a distribuição do contingente por Estado. Santa Catarina contribuiu com 956 soldados que representa uma participação de 3,77% no número total.

Desse número total 29 praças catarinenses tombaram na Itália que gera um índice de 3,03% de mortes sobre o número total de soldados catarinenses. O número pode ser considerado baixo dado a falta as condições que a FEB obteve no período para ir a Itália.
Em Joinville vemos abaixo na Imagem 2 que aparentemente a população recebeu bem a notícia de guerra ao eixo em agosto de 1942, embora é difícil pensar que uma cidade com forte imigração germânica não tenha ficado apreensiva com a notícia, potencializado pela campanha de nacionalização que desde 1938 vinha fazendo uma perseguição implacável contra descendentes de alemães.
Segundo Wilson de Oliveira Neto os exame de admissão no 13º BC começaram somente em março de 1944 (NETO, 2008, p. 99).

Ainda segundo Neto o primeiro contingente partiu em 28 de abril de 1944 com várias solenidades: missa campal com várias autoridades e instituições importantes da cidade, distribuição de presentes e distintivos e ainda um desfile de despedida nas ruas do Príncipe, 15 de novembro e Duque de Caxias, como se vê abaixo na imagem 3. (NETO, 2008, p. 99-100).
Finalmente quando o desfile terminou em frente à Sociedade Ginástica onde ficava instalado a Legião Brasileira de Assistência que serviu uma refeição aos praças. (NETO, 2008, p. 100). O fato é confirmado pela imagem 4.


Após todas esses eventos no dia seguinte logo cedo as 6 horas da manhã partiram pela estação ferroviária o primeiro contingente. O pesquisador Wilson de Oliveira Neto diz que nos dias seguintes, 30 e 31 de abril de 1944, embarcaram mais dois contingentes perfazendo um total de 214 homens como consta no relatório do Major Vasconcellos Filhos. (NETO, 2008, p. 101). Todos partiram para Curitiba.
Na praça Monte Castelo (imagem 5) localizado no bairro Bucarein existe no monumento erigido em homenagem a participação dos praças de Joinville uma relação com 155 nomes divergindo do número do Major Vasconcellos. Pelo que apuramos na relação constam não somente praças de Joinville, mas da região norte e vale do Itapocu, como por exemplo o soldado Bruno Scheibel e o Cabo Harry Hadlich, naturais de Corupá e Jaraguá do Sul respectivamente.

Segue a relação transcrita pela família Petroski:
PRACINHAS DO 13.º BATALHÃO DE CAÇADORES QUE PARTICIPARAM DA FEB
SUB TEN – SGT
1-AVELINO PEDRO R. SILVA
2-ARNOLDO VECHI
3-BRUNO SCHEIBEL
4-ERNESTO G. WAGEMEYER
5-EGON C. GROTH
6-HAROLDO SCHNEIDER
7-JOÃO DE CARVALHO
8-JOÃO DA C. BOMPEIXE
9-JOSÉ A. DA CUNHA
10-JOSÉ D. DE SOUZA
11-JOSÉ DZIEDICZ
12-NESTOR PREIMA
13-OVÍDIO SILVA
14-PEDRO JAEGER
15-RODOLFO JürGENS
16-SEBASTIÃO M. NUNES
CABOS
17-AURÉLIO DE CARVALHO
18-ERALDO N. DE ARRU HARRY HADLICH – Cabo Harry Hadlick,
19-JOSÉ FERNANDES
20-LAÉRCIO HREISEMNOU
21-MANOEL A. DIAS
22-MANOEL L. DE QUADROS
23-MANOEL QUADROS
24-MAURO B. DO NASCIMENTO
25-MIGUEL I. DA SILVA
26-MIGUEL VIEIRA
27-PEDRO BECKER
28-PEDRO KAMERS
SOLDADOS
29-ACÁCIO A. DE OLIVEIRA
30-AFFONSO ROHREGGER
31-AFFONSO G. S. EFESEN
32-AFFONSO SEEFELDT
33-AGENOR GOMES
34-ALBERTO ZIELG
35-ALBERTO HARDT
36-ALBERTO SILZ
37-ALFONSO RATH
38-ALFREDO BAARTZ
39-AMANDUS MEIER
40-AMÉRICO F. DOS REIS
41-AMÉRICO VIEIRA
42-ANDRÉ RANDIG
43-ANGELO VICENZA
44-ANIBAL DOS PASSOS
45-ANSELMO BONELLI
46 -ANTÔNIO A. MARIA
47-ANTÔNIO ELÍSIO
48-ALFREDO R. MILNTTZ
49-ALGEMIRO BENINCA
50-ALVINO MILNITZ
51-ALVINO DE SOUZA
52-ANTÔNIO MARTINOWISKY
53-ANTÔNIO SIKORKI
54-ARISTEU F. DE MELLO
55-ARNOLDO HORNBURG
56-ARTHUR A. DO NASCIMENTO
57-ARTHUR QUANDT
58-ARTHUR RAVACHE
59-AUGUSTO DE ASSIS
60-AUGUSTO BRAATZ
61-AUGUSTO DA MAIA
62-AUGUSTO MÜLLER
63-BASÍLIO MARTINOWISKI
64-BERNARDO GOETKE
65-BOLESLAU KWIENCIN
66-BONIFÁCIO PEREIRA
67-CASSEMIRO KOPPE
68-EDUARDO HARTMANN
69-EGON RAVACHE
70-ELPIDIO LISBOA
71-EMANUEL DA SILVEIRA
72-EMÍLIO LENSCHOW
73-EMILIO E. SIEVERT
74-ERVINO NEITZKE
75-ERVINO ROHREGGER
76-ERVINO SELL
77-EUGENIO LEMKE
78-EUGENIO WODTKE
79-EVALDO WODTKE
80-EVALDO WODTKE
81-FELIPE P. DOS SANTOS
82-FIDELIS STINGHEN
83-FRANCISCO J. DO PATROCÍNIO
84-FRANCISCO MOREIRA
85-FRANCISCO RAABE
86-GERMANO BASSANI
87-GILDO MACHADO
88-GUMERCINDO DA SILVA
89-HARTNIG BORCHARD
90-HEINS FREITAG
91-HELIODORO P. VELOSO
92-HEINRICH HORSTMANN
93-HEITOR DA SILVA
94-HENRIQUE N. FILHO
95-HERCÍLIO DA SILVA
96-HENRIQUE NURENBERT
97-ISOLINO BERNARDINO
98-JACOB P. WINTER
99-HAYME A. MACHADO
100-JOÃO J. CLEMENTE
101-JOÃO L. BATISTA
102-JOÃO M. PADILHA
103-JOÃO MENDES
104-JOÃO N. FILHO
105-JOÃO PADOVANI
106-JOÃO R. HANK
107-JOÃO S. BORBA
108-JOÃO ZABELLA
109-JOÃO B. RIBEIRO
110-JOSÉ A. MOREIRA
111-JOSÉ DE BRITO
112-JOSÉ DEMATHE
113-JOSÉ FELIPE
114-JOSÉ G. DE ARAÚJO
115-JOSÉ H. FERREIRA
116-JOSÉ L. DA SILVA
117-JOSÉ NUNES
118-JOSÉ R. DA SILVA
119-JOSÉ DE S. CALDA
120-JOVINO DOS REIS
121-JULIÃO J. VICENTE
122-JÚLIO F. JUNIOR
123-JÚLIO GONÇALVES
124-LEOPOLDO ACKEMANN
125-LEOPOLDO WEGNER
126-LINO BERTOLI
127-LUIZ BASSANI
128-LUIZ KOCK
129-LUIZ SARDANGNA
130-LUIZ VENTURI
131-MANOEL C. LEMOS
132-MANUEL F. CORREA
133-OCTAVIANO MOREIRA
134-OLÍMPIO A. PEREIRA
135-ORLANDO N. FERREIRA
136-ORLANDO RUDNIK
137-OSVALDO HARGER
138-OSVALDO RANTZLER
139-PAULO RATHUNDE
140-PAULO SANTOS
141-PAULO WOLFGRAM
142-PEDRO J. VICENT
143-RAUL RAMOS
144-RAUL THOMAS
145-REINOLDO MILLNITZ
146-ROMALINO R. SABINO
147-RUDOLPHO RUSTOW
148-SEBASTIÃO G. DA COSTA
149-VENINCIO CARLINI
150-WALDEMAR GANZEMUELLER
151-WALDOMIRO M. DA COSTA
152-WALDOMIRO MELCHERT
153-WALTER ARNDT
154-WIGANDO PSCHAIDT
155-WLADISLAU SIKORSKI
Possivelmente os recrutas da região norte foram agrupados todos em Joinville no 13º BC. As partidas não acabaram em abril e continuaram pelo menos até o final de setembro de 1944, ultimo mês que temos fontes indicando a partida de praças de Joinville.
Conforme coloca Neto não se sabe com clareza o que acontecia com os praças após chegarem a Curitiba:
É muito provável que ao chegar lá ele tenha sido dissolvido e seus membros tenham se distribuído pelas unidades que formariam a FEB, já que dois militares oriundos do 13.o BC na época, o Tenente Wilson de Almeida Fortes e o Terceiro-sargento José Alves da Silva, por exemplo, foram enviados para regimentos de infantarias da FEB diferentes: o primeiro no 6.o Regimento de Infantaria (6.o RI) e o segundo no 11.o RI. (NETO, 2008, p. 102.)
O monumento cita 4 batalhas de destaque:
MONTE CASTELO – 02 FEV 45
CASTELNUOVO – 05 MAR 45
MONTESE – 14 ABR 45
FORNOVO – 26 ABR 45

3. Praças de Joinville mortos na Itália:
Entre os 49 praças tombados na Itália, temos a informação de 2 praças naturais da cidade que não voltaram.
Vamos detalhar as informações que dispomos deles.
3.1. Soldado Gerardt Holz
Em relação a participação na Itália e detalhes da sua morte temos os seguintes:
155- + SD GERARDT HOLTZ – 05 ABR 45
Soldado Gerhardt Holtz, natural de Joinville – SC, 1G 299410 do 11º RI, falecido a 05/04/45 em Malandrone – Itália. – Recolhia minas que foram desativadas pelo seu pelotão quando, sem que ninguém soubesse como, o caminhão de transporte explodiu, matando não só a ele, mas também mais 4 soldados. (LISTA DETALHADA E ILUSTRADA DOS MORTOS DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA NA CAMPANHA DA ITÁLIA.)
“Gerhardt Holz – Id. 1G-299410 – Classe 1921. 11.º Regimento de Infantaria. Embarcou para além-mar em 20 de setembro de 1944. Natural de Joinville – Estado de Santa Catarina. Filho de Frederico Holtz, residente à Rua Frederico Huber, n.º 430, Joinville- Estado de Santa Catarina. Faleceu em ação no dia 5 de abril de 1945, em Malandrone, Itália, e foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia, na quadra B, fileira n.º 10, sepultura nº 112, marca: lenho provisório. Foi agraciado com as Medalhas de Campanha, Sangue do Brasil, Cruz de Combate de 2.ª Classe e Cruz de Combate de 1.ª Classe. No decreto que lhe concedeu esta última condecoração, lê-se: “Foi um dos bravos componentes do Pelotão de Minas. Durante todas as ações em que o Regimento se empenhou, agiu com rara bravura e, sem vacilar, executava todas as missões que lhe eram determinadas. Trabalhou incansavelmente na limpeza de inúmeros campos minados e, por vezes, socorria os fuzileiros que se pretendiam nos referidos campos. Na região de C. Baldino, nos trabalhos executados junto à 1.ª Companhia, embora à noite, socorreu feridos acidentados nos campos minados, onde revelou excepcional sangue frio e calma. Quando na detenção de áreas inimigas minadas na região de Ponte de Malandrone, em face da explosão havida consequente de um bombardeamento, tombou heroicamente no cumprimento de sua missão”. (BOLETIM ESPECIAL DO EXÉRCITO – FEB)
Existe uma certa divergência entre os dois primeiros relatos. O ex-combatente José Alves da Silva em seu livro “A saga de um catarina na FEB” apresenta uma terceira versão com elementos das duas primeiras:
Capitulo XIV: Leitura de documentos alemães. Depois da vitória – as “tochas”.
Texto: O “mineiro” Gerhard Holz (página 250, 251 e 252).
Gerhard Holz partiu de Joinville, com o contingente do extinto 13º BC, do qual fazia parte. Desembarcado em Caçapava – SP em julho, a maioria foi transferida para unidades da FEB, no Rio. Ele foi incorporado na Cia. de Serviços de RI e eu fui parar na 7ª Cia.
Na Itália, o Holz, incluído no Pelotão de Minas, aprendeu a localizar e a desmontar minas e toda espécie de armadilhas. “Mineiro” é a profissão mais perigosa do mundo, porque só se pode errar uma vez, e seu único erro é fatal.
Portou-se sempre com destaque em C. Baldino, onde recebeu uma citação de Combate pelo salvamento de soldados da 1ª/11º RI. Após a conquista de Monte Castelo foi “limpar” o terreno, colocando as minas retiradas dentro de uma Dodge ¾ e, não se sabe como, ocorreu uma explosão pavorosa em Ponte Malandrone, onde ele se encontrava.
O deslocamento de ar quebrou o braço de um PM que dirigia o trânsito a quase 1 KM de distância, e meu amigo Waldemar E. Kopp, que passava com seu Jipe a mais de 500 metros, teve seu veículo atirado fortemente sobre o barranco, ficando desmaiado. Os restos mortais do Gerhard Holz e do outro soldado que o auxiliava desintegraram, e só os fios do tecido das roupas foram encontrados, balançando nos galhos das árvores.
Foi agraciado com a Cruz de Combate de 1ª Classe pela sua excepcionalidade bravura em C. Baldino, cujo Diploma, pasmem: em 6 de outubro de 1977 foi entre a sua irmão e herdeira, Sra. Adélia Holz, por mim e pelo amigo major Lourival Lopes de Freitas – secretário e presidente da SR da Associação Nacional dos Veteranos da FEB – em solenidade realizada no quartel do 62º BI Motorizado, comandado, na época, pelo tenente coronel Otto Bayma Denis, “o gato comeu”. Será que um País desta estirpe merece algo melhor em matéria de dirigentes? Sugiro ao atual Senhor Comandante do 62º BI Motorizado que seja dado o nome do “mineiro” Gerhard Holz a algum campo de instrução, pavilhão ou coisa que o valha, pelo fato do nosso herói ter saído daquele Batalhão de Elite.
Em outro local deste livro pedi para colocar o nome do soldado Estevão da Silva – o Estevinho – no pavilhão da Enfermaria onde ele trabalhou. Lembro que este soldado morreu na tentativa de recolher o corpo de seu comandante de Pelotão, sargento Max Wolff Filho.
Já que estamos falando em medalhas e diplomas, dia 11 de outubro de 1995, mais de 50 anos depois do término da Guerra, fui a uma reunião da ANVFEB, SR de Florianópolis, e lá fiquei estarrecido ao ver chegar pelo correio vários diplomas, bem amarelados pela ação do tempo, que foram encontrados nos escaninhos da Secretaria da Guerra, e, segundo notícias, virão mais, porque os companheiros da ANVFEB do Rio de Janeiro continuam vasculhando; ainda existem febianos que nada receberam.
“É uma vergonha”, como diz o “Boris Casoy”.
Por incrível que pareça, ainda não apareceu nenhuma medalha, a não ser que alguém tenha entregado aos “ex-combatentes” por decreto da Lei 5.315, aos que não puseram os pés fora do Brasil e que aparecem nos desfiles ostentando medalhas privativas da verdadeira FEB. Pergunto: “De onde vieram as medalhas dos falsos febianos? Por que, com mais de 50 anos após o término da guerra, são encontrados só os diplomas? E as medalhas correspondentes? Será que não existe “maracatuia” e que maus funcionários fazem venda das medalhas a quem não pode e não deve usá-las? Neste Brasil do pátria amada, salve, salve, tudo é possível! (Referência: SILVA, José Alves da. A saga de um Catarina na FEB. 2ed. Florianópolis: Secretária do Estado da Casa Civil, IOESC, 2002, p. 250-252).
Com mais documentação no futuro conseguiremos desnudar a forma exata da morte.
Conseguimos encontrar seu registro de nascimento em Joinville no site Family Search. Segue a transcrição:
“Nº 829. Aos vinte e seis dias de anos de dezembro do ano de mil novecentos e vinte e um neste primeiro distrito de paz da comarca de Joinville, Estado de Santa Catarina, em meu cartório compareceu Frederico Holz, carroceiro, natural deste município, residente nesta cidade, à rua Camboriú, filho legítimo de Frederico Holz, já falecido e de Dª Alvina Holz, residente neste distrito e em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assinadas declarou: Que pelas cinco e meia horas do dia vinte e quatro de dezembro corrente em seu domicilio, sua mulher Dª Clara Holz também deste município, filha legítima de Gustavo H, digo de Gustavo Enke e de Dª Anna Enke, residentes em Jaraguá, deu à luz uma criança do sexo masculino que se chamará GERHARD HOLZ que é seu filho legítimo e o terceiro de seu matrimonio efetuado civilmente em Jaraguá. Do que para constar lavrei este termo que lido e estado conforme assinam o declarante e as testemunhas: Otto Kipper e Luis Holz, operários residentes nesta cidade. Eu Waldemiro Onofre Rosa, oficial do Registro Civil, o escrevi.
Waldemiro Onofre Rosa
Frederico Holz
Otto Kipper
Luis Holz”.
Link do Family Search: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-XM9Q-Q1?i=68&wc=MXYT-HZ9%3A337702401%2C337702402%2C339914701&cc=2016197

Junto a igreja luterana foi possível obter o registro de batismo de Gerhard Holz:

Em 1948 na gestão do prefeito João Colin é homenageado com o nome de uma rua próximo ao 13º BC. Aqui a lei:

Holz morreu em 5 de abril de 1945. Dois meses depois em junho seu pai Frederico Holz recebe a seguinte carta da FEB assinada pelo general Mascarenhas:

Temos ainda os monumentos votivos na Itália em homenagem a Gerhard Holz. Não temos notícias de casamento ou filhos por parte de Holz, talvez por ter morrido muito jovem aos 23 anos. Holz era de família de descendência alemã ilustrando bem o que o historiador Dennison de Oliveira chamou de “Os soldados alemães de Vargas”, algo até certa forma comum no sul do Brasil.

Por fim temos a foto da lápide de Holz no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial no Rio de Janeiro onde estão sepultados seus restos mortais que lá repousam desde 1960 quando seus restos mortais foram exumados e trazidos da Itália juntamente com os de seus companheiros que tiveram suas vidas ceifadas defendendo o mundo do horror nazifascista.

3. 2 Antonio Carlos Ferreira:
O outro praça que temos confirmação de origem joinvilense é Antônio Carlos Ferreira. De forma equivocada tem sido colocado natural de Jaraguá do Sul, porém os documentos mostram que nasceu, foi registrado e batizado em Joinville. Alguns dados:

157- + ANTONIO CARLOS FERREIRA – 14 ABR 45
Soldado Antônio Carlos Ferreira, natural de Joinville – SC, 2G 126.286, do 11º RI, falecido aos 14/04/45 em Montese- Itália. (LISTA DETALHADA E ILUSTRADA DOS MORTOS DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA NA CAMPANHA DA ITÁLIA.)
“Antonio Carlos Ferreira – Id. 2G-126286 – Classe 1921. 11.º Regimento de Infantaria. Embarcou para além-mar em 20 de setembro de 1944. Natural de Joinville – Estado de Santa Catarina. Filho de Júlio Ferreira e D. Paula Ferreira, tendo como pessoa responsável D. Paula Ferreira, residente à Rua Epitácio Pessoa, n.º 132, Jaraguá do Sul – Estado de Santa Catarina. Faleceu em ação no dia 14 de abril de 1945, em Montese, Itália e foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia, na quadra C, fileira n.º 1, sepultura n.º 9, marca: lenho provisório. Foi agraciado com as Medalhas de Campanha, Sangue do Brasil e Cruz de Combate de 2.ª Classe. No decreto que lhe concedeu esta última condecoração, lê-se: “Por uma ação de efeito excepcional na campanha da Itália”. (BOLETIM ESPECIAL DO EXÉRCITO – FEB)
Assim como Holz, Antonio Carlos Ferreira também nasceu em 1921 tendo uma diferença de idade em meses:
“Nº 497. Aos três dias do mês de Agosto do ano mil novecentos e vinte um neste primeiro distrito de paz da Comarca de Joinville, Estado de Santa Catarina em meu cartório compareceu Júlio Ferreira, empregado ferroviário natural deste Estado residente nesta cidade à Rua Santa Catarina filho legítimo de Antonio Carlos Ferreira e de sua esposa Dª Maria Justina de Abreu Ferreira ambos já falecidos e em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assinadas declarou: Que pelas dezesseis e meia horas do dia primeiro de Agosto corrente em seu domicílio sua esposa Dª Paula Hay Ferreira natural desta cidade, filha legitima de Pedro Hay residente nesta cidade e de sua esposa Dª Guilhermina Hay já falecida, deu à luz uma criança do sexo masculino que se chamará Antonio Carlos Ferreira que é filho legítimo de seu matrimônio efetuado civilmente nesta cidade. Do que para constar lavrei este termo que lido e estado conforme comigo assinam o declarante e as testemunhas Bráulio Miranda e Francisco dos Santos Faraco ambos empregados públicos residentes nesta cidade. Eu Waldomiro Onofre Rosa, oficial do Registro Civil o escrevi.
Waldomiro Onofre Rosa
Julio Ferreira
Bráulio Miranda
Francisco dos Santos Faraco”.
Registro do family search: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-XM97-2T?i=104&wc=MXYT-MJV%3A337702401%2C337702402%2C339888301&cc=2016197

Diferente do caso de Holz, Ferreira foi batizado na Igreja Católica:

A lei 359 de 1972 sancionada pelo prefeito Hans Gerhard Mayer agraciou Antonio Carlos Ferreira com o nome de uma das ruas de Jaraguá do Sul:

Nove dias após a morte de Holz, chega ao fim a vida de Antonio Carlos Ferreira. Dessa vez quem recebe a carta informando o acontecido é a mãe de Antonio, Paula Ferreira:
Da mesma forma Antonio Carlos foi memorializado em Pistóia, com os monumentos votivos.

Não tivemos ainda a chance de conseguir as fotos das lápides dos praças supracitados no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial localizado no Rio de Janeiro onde desde 1960 repousam os restos mortais dos 468 praças mortos na Itália.
3.3 Locais de mortes dos praças Holz e Ferreira:
No documento do Ministério da Guerra é possível visualizar a batalha na comuna de Batalha ocorrida entre 14 e 17 de abril de 1945. Ela fazia parte da Ofensiva Aliada Final contra os países do Eixo. Pelo lado aliado combateram unidades da 1ª Divisão de Infantaria (expedicionário) brasileira (1ª DIE), com o auxílio de tanques da 1ª Divisão Blindada Americana e pelo lado inimigo tropas do 14º Exército do Grupo de Exércitos C da Wermacht com a vitória aliada como desfecho. No primeiro dia da batalha como informa o Boletim Especial do Exército o praça Antônio Carlos Ferreira servindo pelo 11ª Regimento de Infantaria acabou indo de encontro a morte. O boletim não fornece maiores detalhes da morte, apenas que “faleceu em ação no dia 14 de abril de 1945″ Provavelmente em alguma missão de patrulha”.
Depois temos a morte de Gerhardt Holz morto nove dias antes no dia 5 de abril de 1945 na vila de Malandrone na Toscana, que fica a cerca de 200 Km de Montese. Lemos no Boletim Especial do Exército que Holz integrava o pelotão de minas e que sempre trabalhou limpando minas. Na região da Ponte de Malandrone no dia 5 de abril quando realizava a varredura de áreas inimigas minadas houve uma explosão oriundo de um bombardeio levando Holz a óbito.
Na Lista e ilustrada e detalhada dos mortos da FEB organizado por Henrique de Moura e Hélio Guerreiro o relato é um pouco diferente. Segundo a descrição Holz recolhia minas já desativadas pelo seu pelotão quando de surpresa o caminhão de transporte das minas explodiu matando ele e mais 4 soldados.
É certo que morreu em face de alguma explosão ao recolher as minas. Trabalho difícil e necessário.

4. O dia da vitória:
Como tradicionalmente é rememorado em 8 de maio de 1945 a Alemanha assinou a rendição incondicional pondo fim na guerra na Europa, entretanto a guerra continuou no pacifico até setembro quando o Japão se rendeu após as duas bombas atômicas jogadas em seu território.
Assinala Wilson de Oliveira Neto que Joinville seguiu outras cidades brasileiras e comemorou muito o 8 de maio:
Na praça Nereu Ramos e na rua do Príncipe aconteceram manifestações e desfiles dos quais participaram civis e autoridades joinvilenses (NETO, 2008, p. 105).


Nas imagens vemos cartazes com as fotos de Vargas e curiosamente a foto do primeiro-ministro Winston Churcill além da várias bandeiras.
A segunda guerra mundial foi o evento mais simbólico e traumático do século XX que ceifou mais de 50 milhões de vida e teve um custo altíssimo passando de 1 trilhão. Foi um acontecimento que mudou para sempre a história do mundo e redesenhou a geografia do planeta.
5. Referências:
BRASIL, Ministério da Guerra, Boletim Especial do Exército. Os Mortos da FEB, Rio de Janeiro, MG, 1948.
Brasil, Ministério da Guerra. Roteiro da FEB, Rio de Janeiro, 1945.
GAZETA DO POVO. Os pracinhas na 2ª Guerra. Disponível em: https://especiais.gazetadopovo.com.br/pracinhas-na-segunda-guerra/. Acesso em: 3 nov. 2019.
GUEDES, Sandra Paschoal Leite Camargo ; OLIVEIRA NETO, Wilson ; OLSKA, Marilia Gervasi . O Exército e a cidade. 1. ed. Joinville: Editora UNIVILLE, 2008. p. 86.
LEIS MUNICIPAIS. Lei nº 17 de 1948. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a1/sc/j/joinville/lei-ordinaria/1948/2/17/lei-ordinaria-n-17-1948-dispoe-sobre-denominacao-de-rua?q=Rua+Hamonia. Acesso em: 3 nov. 2019.
LEIS MUNICIPAIS. Lei nº 359/72 de 1972. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/sc/j/jaragua-do-sul/lei-ordinaria/1972/36/359/lei-ordinaria-n-359-1972-fica-denominada-de-expedicionario-antonio-carlos-ferreira-a-rua-61-desde-a-avenida-marechal-deodoro-da-fonseca-ate-a-rua-40-victor-rosemberg?q=Antonio+Carlos+Ferreira. Acesso em: 3 nov. 2019.
PETROSKI, Maria José. Praça Monte Castelo – Joinville. Disponível em: http://familiapetroski.blogspot.com.br/2014/12/praca-monte-castelo-joinville.html. Acesso em: 28 mai. 2015.
PINTO, Paula Moura de Henrique. Lista Detalhada Dos Mortos Da F.E.B Na Campanha Da Itália. Disponível em: http://henriquemppfeb.blogspot.com.br/2012/07/lista-detalhada-dos-mortos-da-feb-na.html. Acesso em: 28 mai. 2015.
SILVA, José Alves da. A saga de um Catarina na FEB. 2ed. Florianópolis: Secretária do Estado da Casa Civil, IOESC, 2002.
Arquivos Genealógicos:
IGREJA LUTERANA DA PAZ. Livro de batismos.
IGREJA CATÓLICA SAGRADO DE JESUS. Livro de batismos.
FAMILY SEARCH. Registros civis de Joinville.
Acervo pessoal de Wilson de Oliveira Neto.
Meu avó Gildo Machado consta nesta lista, um homem muito bom, que Deus o tenha.
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